quem inspira pessoas inspiradoras? #2
conectar referências é prioridade máxima para ter uma carreira mais rentável e intencional. é hora de ir além do feed e descobrir o que inspira quem faz a diferença nas indústrias criativas!
em nosso cotidiano, invariavelmente, sempre haverá uma questão ou outra para contornar.
e é justamente por meio do protagonismo ativo no desenvolvimento da própria criatividade que conseguimos desnudar diferentes perspectivas, perceber o que estava diante dos nossos olhos, superar desafios e seguir em frente nessa trajetória, que às vezes é interrompida por uma pedra no meio do caminho.
enxergar o mundo por diferentes prismas é uma das facetas que torna trabalhar com criatividade uma atividade tão fascinante e desejada por tantas pessoas, é totalmente compreensível o fascínio que ela exerce nas pessoas.
a capacidade de perceber atalhos e encontrar soluções para problemas - dos mais complexos aos mais mundanos - é o que chamamos de criatividade. por isso, lembramos que todo mundo é criativo à sua maneira.
na era da autenticidade plástica e genérica, onde tentam vender a cada hora um novo e-book sobre como criar a marca mais desejável dos últimos tempos — ou melhor, dos últimos tempos, da última semana, como cantavam os Titãs — é preciso entender que só encontra saídas quem tem profundidade. sem isso, não há progresso, sucesso, nada novo.
também é preciso abandonar de vez a ideia de que referências existem apenas na internet, porque vale o lembrete.: nós nascemos num mundo sem a presença dela.
capelas sistinas foram pintadas, vênus de Milos foram lapidadas, pratos de comida foram criados, papeis e tecidos foram desenvolvidos, pigmentos nos apresentaram cores até então inexistentes.
a própria internet foi criada, e para isso foi necessário um vasto repertório e um grande intercâmbio criativo, temos que concordar!
nesta edição das nossas CONVERSAS PARALELAS, vamos mergulhar no universo de três importantes profissionais do mercado, que são verdadeiras referências em suas áreas. conhecer os livros, artes, filmes e muito mais do que inspira o trabalho dessas mentes que têm se dedicado a construir não só o próprio capital identitário, mas, a partir dele, colocar projetos de impacto no mundo!
dani botelho já esteve por trás de campanhas de moda importantes no brasil e foi uma dessas criativas que fez o caminho inverso, deixou a terra da garoa e do caos para regressar ao sul do brasil e abraçar seu timing criativo. fotografar com (c)ALMA, olhar para belezas que muitas vezes não são contempladas pelas marcas dos grandes centros e contribuir com pessoas que assim como ela acreditam que narrativas visuais caminham num outro tempo e não são descartáveis.
〰️ subversivo e inovador, Jean-Luc Godard criou uma das maiores obras da história do cinema com Alphaville (1965), poderia falar dos movimentos de câmeras experimentais típicos da Nouvelle Vague ou da montagem inesperada e impecável para a década de 60. alphaville vai além do que a própria Nouvelle Vague se propõe, o filme é uma fusão de ficção científica, amor à primeira vista e uma crítica social e tecnológica que muito combina com tempos atuais. um longa que se desenrola em Alphaville, uma cidade futurista governada por um supercomputador chamado Alpha 60, que governa de forma totalitária, eliminando emoções e proibindo palavras como "amor" e "consciência". em um contraponto,surge uma cena em que os personagens se perguntam o que é o amor, para mim, a mais linda que o cinema já fez, não sei se pela estética ou porque concordo com as visões de mundo ali apresentadas.
〰️ o casting de diretores da Nouvelle Vague é mesmo de tirar o fôlego, entre estes nomes, um só era de uma mulher: agnès varda. em cada obra ela mostra sua genialidade com filmes quase sempre com um cunho social ligado às questões femininas, lindo de ver. é o caso de Cléo das 5 a 7, que narra um dia da vida de cléo (corinne marchand), enquanto espera o resultado de exames de um possível câncer de mama - o que explica o título. é de uma estética impecável já quebra expectativas logo no início do filme, a primeira cena quando cléo procura uma cartomante é em cores enquanto o resto do filme é todo em preto e branco. uma quebra na fotografia que muito surpreende e inova tanto para aqueles tempos quanto para este. o filme também ilustra toda a efervescência de paris dos anos 60 em uma narrativa melancólica pelo contexto, mas sem perder o humor.
〰️ clássicos são clássicos por um motivo, mas A Convidada o primeiro romance de Simone de Beauvoir tem linhas autobiográficas. não só na maneira que ela percebia as sutilezas da vida, mas também em seu relacionamento com jean-paul sartre. o livro mostra o doce e o amargo de relacionamentos abertos (um tema tão contemporâneo!) e o quanto pode ser difícil manter o equilíbrio de um triângulo amoroso. provocativo, poético e porque não cinematográfico e de um final surpreendente é de longe um dos melhores livros que já vi de perto.
alexandre fidelis é um jeito excessivamente formal de chamar esse criativo. entusiasta da cozinha, especialista em cafés e articulador da cena gastronômica na capital mineira, belo horizonte. alê é um dos nomes mais mais relevantes e carrega na sua multidisciplinaridade (porque também é fotógrafo!) um apreço pelas coisas boas e belas da vida. daqueles profissionais com quem aprendemos junto, navegamos por novas visões do mundo e de quebra ainda, é bom no dedo de prosa!
〰️ flower of flowers é um mini documentário feito pela stumptown coffee roasters em parceria com a farm league, que saiu em 2019 se não me engano. é sobre a experiência de uma artista e dois skatistas profissionais visitando algumas fazendas de café na guatemala, guiadas pelo mestre de torra da stumptown. é bonito conhecer de perto a produção de café na região, algumas histórias dos produtores locais e as pessoas que fazem parte daquele universo. além de mostrar a produção em geral, o documentário mostra que podemos deixar e levar as experiências e histórias por onde passamos, me identifiquei muito na primeira vez que vi, pois é algo que faz parte do meu cotidiano mas não costuma chegar para a maioria das pessoas que consomem café, de alguma maneira, esse contato com a história central daquilo que consumimos, criamos, e eles conseguiram mostrar um pouco de uma forma muito bonita. está disponível no Vimeo e no Youtube.
〰️ origin é novo filme da ava duvernay, que dirigiu “selma” e a série “when they see us”, entre outros projetos. ava é uma diretora incrível e uma das minhas favoritas ultimamente e origin, que foi lançado em 2023, é uma prova brilhante disso. o filme se passa em um momento da vida de uma escritora que acaba de ganhar um prêmio pulitzer, se aventurando em seu novo livro, enquanto a vida vai acontecendo ao mesmo tempo. é muito tocante, que apresenta vários questionamentos que não são recentes para a humanidade mas vem ganhando cada vez mais atenção ultimamente, esse é pra terminar impactado!
〰️ o disco pérola negra, do luiz melodia faz parte da minha vida tem muito tempo, daqueles que lembram de casa e tem até cheiro, ano passado ele completou 50 anos! o disco de 1973 é lindo, e provavelmente já esbarrou em você em algum momento. o que aconteceu agora é que ele acabou de ganhar uma “versão” atual, como grande homenagem ao Luiz, com artistas incluindo: criolo, liniker, anelis assumpção, mart’nália, entre outros nomes que tem trabalhos tão sensíveis e atuais. vale a pena ouvir naquele domingo tranquilo, curtindo a boa vida, na primeira versão e na nova!
carol nazatto estampou muitas matérias, revistas, jornais e até capas de livro com suas artes, você já deve ter visto alguma. a artista, fotógrafa e curadora (perceberam como ninguém é uma coisa só?!) hoje leva suas colagens ao redor do mundo sendo agenciada por 2 nomes relevantes da União Europeia. tornou-se minha amiga querida, é definitivamente um dos cases da CREATIVE MENTORING e também é conhecida por alinhavar por meio do papel perspectivas femininas e feministas através da sua expressão artística.
〰️ anna bella geiger é uma das minhas artistas preferidas da vida! ela tem uma produção multidisciplinar, que sempre me toca e me impulsiona a ir além na minha prática artística. gosto especialmente da produção dela na década de 1970, onde ela reflete sobre o contexto político-social do Brasil, fazendo um cruzamento com seus próprios aspectos pessoais (seus vários autorretratos) com as ordens políticas da época, em críticas que vão de obras contra a ditadura civil-militar até uma extensa crítica ao colonialismo. minha obra preferida dela é “O Pão Nosso de Cada Dia” de 1978, mas vale a pena conhecer todo trabalho!
〰️ sei que é um clichê, mas virginia woolf está tão presente na minha vida que não poderia deixar de citá-la como uma das minhas maiores referências. às vezes fico emocionada só de ter o privilégio de poder ler o que ela escreveu. além dos livros - que sempre me fazem imaginar-criar colagens enquanto leio - eu gosto demais dos artigos que ela escreveu, que trazem um humor ácido, uma ironia e uma sagacidade que eu sou obcecada. no momento estou lendo os diários dela, traduzidos pela ana carolina mesquita e publicados no Brasil pela editora NÓS, e confesso que têm sido uma das minhas leituras preferidas dela.
〰️ seria difícil demais não trazer aqui a artista que me fez começar a fazer colagem, hannah höch (1889 - 1978) foi uma das pioneiras na colagem e na fotomontagem e faz um trabalho visual muito único (principalmente pela época em que ela viveu), explorando as proporções exageradas e o uso de palavras nas obras. uma das poucas mulheres do movimento dadaísta e usava suas colagens como plataforma para abordar - e criticar - as construções dos papeis das mulheres na sociedade. admiro muito como ela foi vanguardista em se afastar da pintura sobre tela para usar da colagem como uma plataforma para ser ouvida.
esperamos que tenham gostado, até a próxima edição, comunidade!
nos vemos em breve.