a grandiosidade de ser pequeno.
não ambicionar grandes impérios pode ser uma afronta para quem vive numa competição sem pausas para chegar ao topo, mas há quem não vai investir esforços para exaurir-se no percurso!
para mim o lugar mais precioso da criatividade não é o palco, mas o backstage.
é ali que tudo acontece.
é ele quem sustenta a coisa toda.
contudo, numa sociedade do espetáculo tem quem não se conforma com o quão confortável alguém pode se sentir neste lugar quase invisível.
sem provas cotidianas, quase deixamos de existir, parece que nossa relevância ameaça perder a força, assim como nossa inteligência ou capacidade, até nossos contatos são colocados a prova. será que somos mesmo capazes de acessar tudo o que dizemos conseguir? existem dúvidas.
mesmo se um dia não trabalhar mais com branding seguirei na defesa do protagonismo profissional, principalmente para mulheres, reafirmando sobre a apropriação dos nossos discursos intelectuais e reforçando que nem tudo precisa ser performance, apesar de entender que hoje em dia a atuação excessiva chama mais atenção do que uma afirmativa verdadeira e qualitativa.
a questão é que sem esse trabalho no behind the scenes, esse que fica escondido - e o branding está ali por trás das cortinas - o show não acontece e é a hora de questionarmos que tipo de espetáculo queremos apresentar e até aplaudir enquanto espectadores.
desde muito cedo entendi por meio do meu próprio perfil profissional, que entre muitas características, já me revelava que eu não tinha a energia de ser um grande festival, estava mais para um show intimista. e no percorrer da jornada fiquei feliz em me dar conta de que não estava sozinha. haviam outros criadores, criativas, profissionais que caminhavam comigo nesses cenários que talvez não fossem tão nababescos!
havia espaço para crescer, prosperar, sem necessariamente escalar numa jornada extrativista como observávamos outros colegas no percurso, mas a pressão sempre esteve ali, todo mundo sente ela, às vezes estrangula. é cansativo se dar conta de que há um endosso do entorno para que o excesso seja explorado, para que se busque mais, mesmo quando o seu mais está orientado a qualidade, não a quantidade.
a criatividade sempre encontra brechas.
nem todo mundo quer ser chefe…
carreira é construção, fato, mas nas CONVERSAS PARALELAS falamos em jornada não linear, dessas que percorremos de uma forma nada engessada, sem intenção de discurssar sobre subida, topo ou qualquer abordagem que reforce um senso de distanciamento com uma realidade que sabemos, é diferente para cada um.
meu lá não é o seu lá e tudo bem, falei sobre esse tema no BRANDYOURSELF que aconteceu esse mês, inclusive. o tal “chegar lá” é o menos importante nessa equação toda porque ele alterna a rota, transforma-se, quantas vezes não perde a graça quando alcançamos? o que precisamos priorizar é o desenvolvimento e a experimentação.
nos últimos anos ouvimos sobre o tal quiet quitting (demissão silenciosa), fenômeno que ganhou força na pandemia naquele momento onde muitas pessoas começaram a ponderar sua relação com o trabalho num futuro que ainda era incerto, com a gen Z na área em busca de encontrar novas alegrias e considerar maneiras diversas de lidar com a vida profissional começamos a ver uma espécie de quiet ambition (ambição silenciosa), como quem rejeita grandes cargos porque tem outros objetivos na vida que não só receber mais grana pelo triplo de responsabilidades, será que vale MESMO a pena? a galerinha mais jovem acha que não.
certo ou errado? não importa, confesso que ver esses fenômenos culturais e comportamentais me ajudam a pensar como as novas gerações estão mudando seus interesses, chegando ao mercado desiludidas com questões com as quais nós também estamos nos debatendo de certa maneira. segundo o report CARREIRA DOS SONHOS de 2023, para 53% dos jovens profissionais brasileiros a liderança da empresa onde estão não os inspiram a serem líderes no futuro, o que indica que parte deles não estão interessados em tomar a frente de nada.
enquanto millennials nossa ambição tem mudado nos últimos anos, o que você anda considerando importante aí do outro lado? certeza que se alterou também!
por uma vida profissional que se encaixe na nossa vida pessoal.
nem todo mundo quer construir grandes corporações, às vezes o que a gente quer é o olho no olho com quem nos contrata.
quando ainda insistia em me fazer presente no Twitter, li o estilista igor dadona falando justamente sobre estar confortável em ser “pequeno” e sobre como as pessoas ainda se espantavam quando ele dizia que não tinha interesse em tornar-se um grande business de moda.
distante dessa ânsia que permeia o imaginário de muitos criativos, seja de abrir-se para o capital de sócio-investidores escalando faturando com aberturas de lojas ou de fazer parte de grandes conglomerados. igor diz que a marca não é só um negócio, mas uma extensão da sua vida, que prefere fazer as coisas com calma, cuidado e diminuir sua apresentação para um desfile ao ano, indo na contramão de toda uma movimentação mercadológica que tem feito malabarismos para aparecer (e vender) cada vez mais.
ele busca fomentar o colaborativo, criar uma rede de fornecedores e clientes, cuidar nos detalhes de que histórias estão sendo escritas e nessa vertigem digital é louvável celebrar nossos processos e a grandeza dos nossos tamanhos por menor que eles possam parecer para quem olha de fora, criar nosso próprio ritmo mesmo que digam que você está fora do compasso.
siga tentando encontrar sua forma de dançar!
ambição e sucesso são conceitos diferentes.
ambição é um forte desejo, a determinação por conquistar um objetivo, é quando orquestramos nossos movimentos para alcançar algo que nos motiva. sucesso, independente do quão subjetivo seja para ti, é o resultado dessa articulação.
e nessa onda de ambição megalomaníaca e de sucesso estratosférico para ser exibido, que ao meu ver são efeitos da overdose de informação que consumimos e criamos na internet é que o mercado acaba perdendo mais do que ganhando.
afasta por si só criadoras e criativos que querem caminhar, criar arte, produzir moda, escrever literatura e mais formas de expressão em diferentes passadas, que tem muito colocar no mundo numa candência que a forma atual não comporta.
por fim, me resta dizer que a contemporaneidade não vai alterar seu timing para dar conta do nosso relógio criativo que anda numa dinâmica própria, mas eu espero e desejo de coração que possamos permanecer fieis ao nosso tempo e juntos encontrar nosso lugar na comunidade para seguir criando, porque sem expressão criativa genuína, aquela que nasce da alma, o mundo perde o sentido.
por falar em comunidade, estamos pelo Instagram, não se esqueça e junte-se a gente!
você trai você mesma quando não está sendo você!
Não é a toa que a minha pequena empresa se chama IMENSA, Ly! hehe Recentemente eu respondi essa pergunta sobre a dimensão das coisas que vemos por aqui e... “Pode ser que as pessoas imaginem que a assinatura da Imensa tenha a ver com aumentar as coisas para conseguir comunicar bem. Mas existe um paradoxo nisso porque o significado que buscamos é exatamente o oposto. A gente acredita que a imensidão já existe exatamente na substância da qual cada pessoa é feita e é a partir dessa matéria que contornamos o universo de uma marca. Nesse sentido, o nosso papel é ter tempo, abrir espaço, observar o contexto e ler os pensamentos para finalmente chegar nesse núcleo: um lugar certeiro onde habita a imensidão que tanto buscamos.”
Esse manifesto da grandiosidade de ser pequeno não poderia fazer mais sentido pra mim! Quantos negócios grandes vemos por aí recheados de distâncias, com a atmosfera emprestada de não-lugares, com impacto medíocre... Sou do time que torce para que as nossas pequenas ilhas de carreiras individuais formem um imenso belo arquipélago.
Aposto nessa comunidade como o lugar certo para fazer parte disso. :)
Salvando aqui e compartilhando, quase imprimindo, pra nunca mais esquecer o que acabei de ler! Obrigada!