talvez você já tenha chegado lá!
enxergar resultados por prismas mais amplos tornar-se um combustível potente para quem quer viver percursos profissionais mais realistas e alinhados à própria essência criativa!
todo começo de ano direciono minhas energias em organizar minha “casa profissional”.
fazemos a atualização dos materiais da empresa, implementação da nova agenda e do planejamento traçado nos primeiros dias do ano, dedicamos um tempo para apresentar a quem nos interessa nossos objetivos e desejos criativos (e também entender o que o cliente espera para oferecer soluções!), mas em janeiro tudo aconteceu de um jeito inesperado.
não porque mudamos as dinâmicas internas, nem mesmo pelos anseios que transbordaram e precisam ser equilibrados junto às demandas inegociáveis de ter uma empresa e dar conta da vida adulta, mas porque numa das inúmeras reuniões fui arrebatada com a pergunta de uma cliente que interessada interrogou sobre minha experiência enquanto uma profissional - agora internacional - de sucesso.
no início levei como uma brincadeira, por uma fração de segundos - que na minha cabeça pareceram horas - acreditei que pudesse ser até uma ironia aos progressos lentos que tenho feito desde que cheguei ao outro lado do oceano nesse 2023 de plantio, mas entre o sorriso genuíno repleto de expectativas que ansiava por uma resposta e o malabarismo desprovido de graça que fiz para escapar do questionamento, só consegui timidamente responder que não era para tanto, ainda não havia chegado lá, faltava muito para incorporar a palavra sucesso aos meus léxicos atuais, MUITO MESMO.
um retorno fraco que saiu em tom de vergonha, desespero, não sei, saiu torto, errei a sonoridade. para meu alívio a reunião seguiu sem mais questionamentos profundos, não sei como fui interpretada, mas sei que a pergunta ecoou e a minha resposta me deixou suspensa no tempo.
ainda não havia chegado lá, faltava muito, M-U-I-T-O M-E-S-M-O.
confusa, eu também não sabia definir de que tipo de sucesso estávamos falando exatamente? quais indicativos de que havia chegado lá? como seria, onde era esse lá? qual métrica deveria ser usada? o que havia de comparativo para medir? o turbilhão de pensamentos tomou conta quando na verdade, era só uma pergunta honesta de uma pessoa entusiasmada com meus planos, sem confronto ou qualquer menção à comparação.
meu monólogo profissional durou por dias, foi difícil seguir, levei as neuras à análise (investimento mais bem pago na minha vida não há!), até transbordar nesta newsletter que não faço ideia que fim vai levar, mas precisa acontecer, inclusive para inspirar alguém aí do outro lado que vive questionamentos sobre as próprias conquistas.
elaborar é o caminho para compreender nossas dúvidas.
inclusive, convido que também o faça com seus atravessamentos, sem pretensão alguma, só colocar para fora!
vamos aos fatos.
as dinâmicas atuais nos exigem a performance, a busca por explicitar desempenho - de maneiras diversas - muitas vezes nos leva a jogar o jogo da exposição, nos condicionar a formatos. repetimos formas de fazer, percorremos jornadas usando os passos alheios, esvaziamos assuntos para não perder o timing, em alguns casos há quem passeia na linha tênue e bamba entre a humanização e o oversharing, tudo isso para reafirmar uma ideia, uma existência, até o pertencimento. humanizar o que tecnicamente já é humano, o que deixa tudo mais complexo, estranho.
com a análise crítica em dia, podemos dizer que de certa forma todas nós vivenciamos e até contribuímos para que algumas dinâmicas performativas da nossa sociedade se mantenham, não é hora de ter vergonha. é nosso dever assumir esse B.O porque ainda que alguns limites estejam borrados e a contemporaneidade não tenha vindo com manual de instruções, quantas vezes não caímos em pequenas ciladas por não mergulhar profundamente em nossos próprios pensamentos, anseios e realidades?
dentre metas audaciosas e buscas incessantes por aprimoramento, por uma melhor versão de si - também profissional - é comum nos afastarmos dos contextos, dos processos, do ritmo em que a vida opera (principalmente a nossa!), não distinguimos mais a realidade do acaso, a exceção da regra, buscamos mais sem conceber que mais é esse que perseguimos.
a forma contemporânea de existir trouxe profundas implicações na visão da nossa própria realidade.
e é ingenuidade pensar que esse tipo de incongruência é uma condição exclusiva, restrita à poucos, essa desconexão é acentuada pelos contornos que a sociedade tem tomado. afeta as pessoas de formas diferentes, mesmo aquelas que dizem não se importar com nada disso, também afeta as que batem no peito para dizer que são inatingíveis, impenetráveis, não são.
na atualidade precisamos verter juventude por todos os poros para fazer sentido no mercado, sermos validadas, reconhecidas, exibimos nossa humanização para entreter, mas o outro só aceita desde que seja palatável, gostosinho, fácil de digerir. e sempre haverá alguém com mais visão, mais timing, mais dinheiro, com maiores e melhores conquistas e parece que só validamos as nossas quando elas apresentam-se e são exibidas de forma exagerada.
refletir sobre pontos sensíveis e estimular o pensamento diverso, a construção de novos raciocínios é fundamental para marcar presença em nossas jornadas e até para usufruir daquilo que já alcançamos.
porque sim, é provável que nesse ponto alguns (ou muitos!) dos patamares traçados já tenham sido atingidos, estão em uma construção evidente, menos distante do que enxergamos com a vista embaçada. talvez sejam conquistas que apresentam-se fragmentadas, em “embalagens” diferentes, mas nem por isso, deveriam ser descartadas ou até desconsideradas, categorizadas como menos importantes porque não se revelaram como a versão idealizada.
talvez devêssemos olhar ao nosso redor nesse instante e permitir-se enxergar os detalhes ao invés de escapar e regressar aos devaneios, a loucura de achar que um resultado precisa ser grandioso para ser resultado.
talvez você esteja vivendo a versão possível dos seus sonhos!
é fundamental sustentar desejos, negociar as renúncias, nos colocarmos à disposição de implementar mudanças em nossos percursos, claro, vocês estão cansadas de ler sobre isso. mas a forma como menosprezei as realizações me fez olhar para o óbvio, esse que me fala sobre também valorizar as pequenas conquistas que já apresentam-se neste quebra cabeças complexo que são as nossas jornadas profissionais.
ao invés de projetar as façanhas alheias nos meus feitos, me propus a desnudar meu percurso e fazer com que em meu espelho refletisse minha imagem, não a de outro alguém porque não sou aquele corpo, nem aqueles sonhos, são medidas que muitas vezes sequer nos cabem.
só criaremos novos esboços sobre o sucesso quando soubermos distinguir as verdades fabricadas!
ser uma profissional de sucesso deveria ter menos relação com conquistas materiais e a detenção das moedas efêmeras da atualidade e mais com a capacidade de permanecer-se sensível aos próprios contextos, a si, ao outro, ao mundo para por fim, realizar o que faz sentido.
saí do torpor que a pergunta me trouxe, permiti que meu emocional e o meu racional trabalhassem em conjunto, sem a necessidade de embates, nem mesmo ganhadores ou perdedores.
ao invés de impor novas formas de sofrimento me dispus a espreitar de forma mais ampla porque a criatividade, assim como o sucesso sempre encontra brechas. entendi que tudo aquilo que precisamos para experienciar uma jornada de sucesso legítima já está à nossa disposição.
basta acessar e a partir disso, se for um desejo, independente da métrica, progredir em outra direção.
concentre-se no agora!
beijo.
ly.
A definição de sucesso é, cada vez mais, pessoal e intransferível, mas pelo menos pra mim ainda é muito fácil se sentir ‘ultrapassada’ e que perdi o bonde do reconhecimento acompanhando as redes sociais e outras plataformas.
o seu olhar para o reflexo no espelho e os questionamentos surgidos e compartilhados por aqui foi um repensar o <sucesso> seu e a elaboração aconteceu por aqui também. obrigada, ly.